domingo, 25 de fevereiro de 2007

(7) O patusco PAULINO
= Histórias verdadeiras =
por Toni Florido

Conversa fiada
Vai o Paulino de calcorrear, naquele dia, várias ‘capelinhas’ cá do burgo. E se todos os ‘copos’ não lhe fizeram diferença, o último é que lhe caiu mal. Refilou, pastosamente, para o barrigudo dono daquela tasca da zona baixa da cidade:
-“Oh meu Deus! Oh sr. João! Isto é ‘pitrol’ ou quê!? Uff, que má disposição!!”
E saiu, todo empenado e aos ‘esses’…
Chegou à rua, vai para pegar na bicicleta, mas aquela ‘maldita’ parecia estar viva! Ora caía para o lado de cá, ora caía para o lado de lá!
Já exasperado, arrumou-a para o chão e apontou-lhe o indicador, ralhando:
-“Oh meu Deus! Ouve lá, eu farto-me de puxar por ti todos os dias, hoje vê lá se puxas tu por mim!...”

Mestre Zé
Um dia o popular mestre de embarcações de pesca Mestre Zé ‘Garrafinha’ deu de caras com o nosso homem:
-“Oh Paulino, passa por minha casa amanhã que tenho lá um fato que já não uso e ainda está novo… não gosto muito dele!...”
Assim fez. A esposa de Mestre Zé, dona Luísa, já estava avisada e deu-lhe o fato. Ora o Paulino não era cá de ‘modas’, e ainda conseguiu ‘cravar’ uma camisa, alguns pares de meias, sapatos, um cinto, gravatas e dois bonés.
No Domingo seguinte vestiu tudo ‘de novo’. Já no Picadeiro encontrou o
Mestre Zé:
-“Oh meu Deus! Oh mestre Zé! Ora diga lá quem eu sou!”
-“Quem tu és!? Mas… és o Paulino, ora essa!”
-“Não sou nada! Eu agora sou, mas é, o Mestre Zé!!”

Café Niza
Entrou o Paulino no Café Niza pelas quatro horas da manhã, coisa que fazia habitualmente para esperar pela abertura da lota do peixe grosso, para ver se se orientava com uns ‘peixitos’. Não se importava o Niza que o Paulino por ali vagueasse, mas naquele dia… naquele dia ele estava impossível! Já tinha entrado ‘tocado’, já tinha emborcado mais uns bagaços para aquecer e metia-se com toda a gente:
-“Olha o sr. doutor! Que cara é essa? Veio agora do cemitério!? Oh meu Deus! Olha o Silva! Vai à retrete que estás amarelo, pá! Oh engenheiro: não há dessas calças em azul!? Assim às riscas não gosto!! Eia o Simões!
Não pagas um copo!? Não!!? Então paga cá o Paulino! Niza! Hó Niza! Um bagaço para todos que quem paga sou eu… não sei é quando!... ou então deixo cá a bicicleta!...” – E não se calava!
Aquilo cansava, até que o velho Niza viu-se obrigado a metê-lo na rua por uma porta… mas ele entrou logo pela outra!
-“Oh meu Deus, tá frio lá fora!”
Mas continuava ‘chato’ e assim foi posto fora várias vezes, mas outras tantas acabou por entrar. Até que o Niza, já exasperado, pô-lo na rua mais uma vez mas desta ameaçou-o:
-“Olha que se tornares a entrar despejo-te com esta cafeteira de água pela cabeça!”
Um minuto depois, estava-se mesmo a ver, o Paulino voltou a entrar. O Niza, para fazer cumprir a sua palavra, sai de trás do balcão com uma cafeteira cheia de água já no ar mas, desastradamente, escorregou no estrado ao sair do balcão e caiu de costas, virando grande parte da água por cima de si… e então sim, aqui o Paulino resolveu sair de vez, e já na rua virou-se para trás e rematou:
-“Para a próxima vez tem mais cuidado, oh Niza! Olha que tens que pisar com jeitinho!!”

Tomara que chova
Estava o Paulino assistindo a um filme no velho e saudoso Parque-Cine. Era de Verão, cá fora fazia um calor de rachar e ainda por cima o filme decorria no sertão brasileiro, árido, bafiento, sem soprar vento, calor tórrido, calor por todos os lados, na tela e na sala abafada… o público, psicologicamente influenciado, ainda estava mais sedento e encalorado.
De repente, cá de trás, ouve-se trautear na sala aquela famosa área brasileira, entoada pelo Paulino:
-“…tomara qui chova, três dias sem parar!...
Foi uma risota geral e que teve o condão de aplacar o calor e a sede a todos.

Melgas
Entrou o nosso homem numa das várias casas de pasto da nossa cidade. Dia quente e húmido, propício à proliferação de melgas, moscas e mosquitos. O dono da casa espalhava insecticida pelos cantos ao mesmo tempo que, com o jornal, ia dizimando as melgas mais relutantes. Ao ver o Paulino, exclamou:
-“…estas malditas!... Ouve lá, tu lá em casa não tens mosquitos!?”
-“Se eu não tenho mosquitos em casa!!!? Oh meu Deus! Aquilo às vezes até parece um rallye!”

ToniFlórido

Sem comentários: