domingo, 25 de fevereiro de 2007

(4) O patusco PAULINO
= Histórias verdadeiras =
por Toni Flórido

O taco de bilhar
O Paulino, já bem alegre, ia para sua casa (um pobre barracão) ali perto do Palácio Sotto Mayor. Só que, num dos variados “esses” que a bicicleta ia executando, o nosso homem ‘embica’ por uma das ladeiras que davam, e dão, acesso às Abadias e… aí vai ele desgovernado, a alta velocidade, tentando travar e não conseguindo, sujeito a partir um braço ou uma perna ou mesmo a acontecer-lhe algo pior.
Lá deu um safanão ao guiador ocasionando que embatesse violentamente num passeio e que fosse projectado por cima de uma sebe, indo estatelar-se
no jardim de uma vivenda de um conhecido arquitecto figueirense. Era já noite, e a esposa do arquitecto, que se encontrava na cozinha, ao ouvir o barulho, foi ver o que era… e no lusco-fusco só viu um maltrapilho a levantar-se do chão com os braços no ar… e assustou-se, gritando pelo marido. Este apareceu e, talvez julgando tratar-se dum assalto, vinha ‘armado’ de uma vassoura para afugentar o ‘perigoso’ assaltante. Ao que o Paulino exclamou:
-“Oh meu Deus! Oh sr. arquitecto! Então onde é que vai a esta hora com o taco jogar bilhar!?”

Guiness-book
Certa vez organizou-se à volta do Coliseu Figueirense uma prova de resistência em bicicleta, tentando os participantes – entre os quais se encontrava um colombiano – bater o recorde nacional de permanência em cima do selim. E se ‘a coisa’ se proporcionasse, até mesmo tentar bater o recorde mundial.
Estas provas repetiram-se mais duas ou três vezes noutros tantos verões, isto entre os anos sessenta e setenta.
Mas desta vez lá foram os participantes desistindo excepto o colombiano que se via estar numa forma física e anímica extraordinárias.
Mas eis que, na última noite em que teria de aguentar até bater o recorde,
surgiu o Paulino, que começou também a competir com o colombiano a pedalar à volta do coliseu com a sua bicicleta. De lembrar que era uma prova de resistência em cima do selim, não uma prova de velocidade. Ora o Paulino achava que ele pedalava lento de mais, e resolveu incentivá-lo:
- “Vá, força, mais depressa! Olha aqui como se faz!”- E dava o exemplo dando uma pedalada mais forte, mas o colombiano não lhe ligava nenhuma.
-“Vá, ânimo! Isso é falta de um tinto! Vamos ali ao Zé d’Alhada!? Olhe ali todos a bater palmas! Quer trocar a bicicleta pela minha que é mais rápida? Não tem é marcha atrás mas também não é preciso!” – Mas o colombiano, ‘moita-carrasco!”
-“…é que assim até eu lhe vou ganhar! Vai uma corrida!? Um tinto é que era! Vamos lá!? É pena isso não ter motor. Mas não vai mesmo um tinto!?”
Até que, vendo que não tinha companhia, foi beber um copo (ou mais!) sozinho.
Regressou minutos depois visivelmente mais bem alegre!
-“Olha o artista ainda está para aqui às voltas! Este é dos fortes, é cá dos meus! Ora venha daí um abraço!!”
E foi-se ao colombiano para lhe dar um abraço, mas tão desastradamente que… caiu tudo, minha gente: os dois no chão, uma confusão de pernas, braços, poeira, rodas da bicicleta, gritos…
O Paulino ficou impávido e sereno a sacudir a roupa e a dizer que com um copo de tinto ‘aquilo’ passava.
O colombiano dizem que só acordou no hospital.

A tartaruga
Mas o nosso artista teve algumas histórias um pouco… sórdidas.
Há largas dezenas de anos tinha o nosso jardim um tanque para tartarugas. Ou alguém levou uma para lá. Julgamos ser correcta a primeira hipótese. Seja como for, o Paulino achou imensa piada a uma tartaruga adulta que por ali andava, e cutucou-a. O bicho metu logo a cabeça para dentro. Agora imaginem a aflição do Paulino.
-“…então mas…oh meu Deus!! Onde é que ela meteu a cabeça!?” – E pôs-se a espreitar lá para dentro. –“…o raio da cabeça… mas onde(!?)…”
Meteu um dedo dentro da cavidade da cabeça da tartaruga e esta, claro está, deu-lhe uma mordidela que, diz quem viu, lhe ia mesmo arrancando o dedo!
Ah! Paulino duma figa! Irritado e cheio de dores, puxou de uma navalha e deu três ou quatro golpes no bicho! Está bem que a carcaça aguentou os golpes, mas um foi à carne o que lhe ocasionou um sangramento.
-“Ah, bandida!”- primeiro bradou, enchendo o peito de ar como ele via nos os guerreiros fazerem nos filmes do Parque Cine; Depois, e ao ver o sangue, afligiu-se e murmurou: -“Ai coitadinha!...” – e saiu dali a dizer que ia chamar os bombeiros.
Nunca mais ninguém o viu.

Um poema
Uma das vezes que contactámos com ele, perguntámos-lhe se tinha a certeza de ter nascido mesmo na tal já desaparecida esquina da Raposeira, ao que ele respondeu que até tinha feito ‘um verso’ à esquina. Claro que nos apressámos a tomar nota:

Nasci em Buarcos
Na esquina da Raposeira
Tanto andei c’os meus sapatos
Que vim parar à Figueira.

ToniFlórido

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