domingo, 25 de fevereiro de 2007

(2) O patusco PAULINO
= Histórias verdadeiras =
por Toni Flórido

O ‘Pilante’
Antes de ter os seus três queridos gatos, ‘o Limão’, a ‘Triana’ e o ‘Tareco’, o seu grande amigo e companheiro foi um cão, animal que, segundo rezam os que conheceram os factos, não só era para ele uma verdadeira ‘pessoa’ como, inclusive, lhe salvou a vida.
Vamos aos factos:
Alegremente seguia o Paulino pelas Abadias. O seu destino era a lota do peixe, na altura em frente à estação da C.P. onde se iria abastecer, não só para consumo próprio como também para revender alguns quilos de pescado. Nunca despendia muito pela aquisição de alguns cabazes pois os pescadores, conhecendo-o, obsequiavam-no fartamente.
O seu cão, o ‘Pilante’, seguia-o e à bicicleta, latindo a tudo o que se movesse que não fosse do seu agrado.
Passaram pelo jardim (e aqui é preciso imaginar como era aquela avenida antigamente) e depois, ao invés do nosso homem virar à esquerda, não senhor! Seguiu em frente despenhando-se para o rio… e o fim estava à vista já que o seu estado – como já o dissemos – era constantemente de uma alegria ‘avinhada’!
Três ‘sortes’ beneficiaram o Paulino neste acidente. A primeira foi que a maré não estava muito alta, senão morria afogado. A segunda foi que a maré não estava muito baixa, senão morria da queda, nas pedras. Assim, a pouca altura das águas do Mondego amorteceu-lhe a queda, ao mesmo tempo que o ‘Pilante’ começou, cá em cima, a uivar que se desunhava.
Foi a terceira sorte do Paulino, já que um automobilista (funcionário do Casino da Figueira) apercebeu-se da situação e deu o alerta. Eram cerca de 22 horas. Juntaram-se muitas pessoas, terrificadas por verem um homem a debater-se nas águas e a murmurar: -“Oh meu Deus! Para o que me havia de dar! Tomar banho a esta hora! Onde estará o raio da bicicleta!? E o cão?
‘Pilante’… oh ‘Pilante!!...” Depois olhou para cima, viu as pessoas e acrescentou: -“Não venham cá abaixo! A água está muito fria!... Oh meu Deus!”
Conseguiram retirá-lo do rio e, mesmo antes da chegada dos socorros, o automobilista levou-o ao hospital. Fiel testemunha do que se passou, disse que foi, efectivamente, o cão que o ‘chamou’, uivando longamente. E que
já no hospital verificaram que tinha um braço partido, duas ou três costelas deslocadas e zonas ensanguentadas por todo o corpo. Ainda assim – conta a nossa testemunha – mesmo na adversidade, e quando o médico lhe observou que, naquela queda, tinha tido muita sorte – o Paulino retorquiu: -“Oh meu Deus! Oh Sr. Doutor! A minha sorte foi ter conseguido abrir o para-quedas a tempo!!”

O carro-de-mão
Num sábado de Agosto, pela hora do jantar, passa o Paulino pela ‘Caravela’ com um usado e ferrugento carro-de-mão carregado de estrume. Fala com um: -“Olha o Sr. Engenheiro! Parece que está chateado! Mude de praia!”. E fala com outro: -“Olha o Sr. Doutor! – e aponta para o adubo – E
então não vai um aperitivo!?”
E continua o seu caminho com uma desfaçatez impressionante. Atravessa os três ‘piços’ que impediam, naquele tempo, o trânsito no Bairro Novo e começa a atravessar, nas calmas, a estrada em frente ao Grande Casino Peninsular. Um polícia interpela-o: -“Oiça lá, não sabe que não se pode atravessar aqui com carripanas dessas? Ainda por cima com estrume!?...”
-“Oh Sr. guarda! Oh meu Deus! Não me diga que agora me vai multar por excesso de velocidade!...”

O coxo
Numa das suas habituais deambulações pelo Bairro Novo deu de caras, um dia, com um coxo. Coxeava pelo passeio do ‘Casino Oceano’. Chocado pela visível enfermidade do visado, decidiu aconselhá-lo:
-“Oh meu Deus!” – fungou e passou, atrapalhado, a mão várias vezes pelo nariz – “Olhe que você não coxeava tanto se andasse com o pé mais curto em cima do passeio e o outro na valeta!...”

ToniFlórido

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