domingo, 25 de fevereiro de 2007

(5) O patusco PAULINO
= Histórias verdadeiras =
por Toni Flórido

Tem o Paulino algumas histórias com condutores e seus carros avariados. Foram-nos contadas como sendo verídicas. Não o podemos comprovar, como é óbvio, por isso nestes artigos contamos as duas ou três que averiguámos ser as mais verdadeiras.

A viagem
Ora certa vez estava o nosso homem na rua do Viso quando se lhe deparou um automobilista às voltas com o motor do seu carro. Puxava dum fio, apertava um parafuso, barafustava com o óleo.
-“Raios!” – murmurou o irritado condutor. – “E agora como é que irei para casa!? Sim, como é que vou para casa!? Vai ser lindo, vai…”
O Paulino passava a pé, nesse momento, e ouviu os desabafos.
-“Oh meu Deus! O senhor doutor desculpe, mas se quiser eu dou-lhe boleia!”
O homem ainda lutou arduamente durante mais uns minutos com o tal abominável motor. Nada feito! Declarou-se vencido pela tecnologia.
-“Pronto!... e agora… ó, ó amigo! Já agora que me ofereceu boleia, podia-me levar lá abaixo à Praça dos Táxis? Eu pago-lhe a boleia!...”
-“Oh meu Deus, oh senhor doutor, com certeza. Ora venha daí comigo!”
E levou-o, por entre os prédios junto ao ciclo, até à sua barraca. Foi lá dentro e saiu com a sua bicicleta a reboque:
-“Pronto, oh doutor! Sente-se aí atrás, que eu vou à frente a conduzir! Vai ser num instante!...”

Bicos de papagaio
Esta terá sido uma das mais famosas do Paulino.
Bairro Novo, cerca da uma hora da madrugada de um impreciso dia de Maio. Um certo movimento de pessoas na rua a condizer com o tempo ameno. Um automóvel empanado, mais um condutor aflito.
O Paulino passando.
Enfim, aquela coisa.
O Paulino aproximou-se do carro e indagou:
-“Está avariado?”
-“Está sim!...” – retorquiu o homem, perguntando esperançado: -“O senhor é mecânico?”
-“Oh meu Deus!... oh meu amigo, saia daí…” – e afastou para o lado o agora esperançado automobilista – “…deixe-me ver o que é que se passa!”
E pôs-se a olhar, meditando, para o emaranhado dos fios do motor. Mexeu neste e naquele enquanto ia soltando umas inaudíveis imprecações. –“Ora gaita!...será aqui!?... mas… o que é isto!?... Ah! Pois!...”
Passado um escasso minuto afastou-se do automóvel visivelmente satisfeito e sacudindo as mãos. Exclamou:
-“Pronto, já sei!”
-“O quê!? Já sabe!?” – perguntou o automobilista todo satisfeito. – “Já está arranjado!?”
-“Não, já sei o que é! O que o carro tem é bicos de papagaio!”

Futebol
Certo dia daqueles anos áureos do Paulino, foi este ver um jogo de futebol entre a Naval e uma qualquer outra equipa.
Entrava à borla, mas naquele dia o porteiro não o queria deixar entrar:
-“Oh Paulino, podes entrar, mas a bicicleta não!”
-“Oh meu Deus! Mas tem que ser! Eu sou o apanha-bolas e como estou sozinho não posso ir a pé pelo campo todo!...”

A casa dos papagaios
Certo dia chega o Paulino à ‘Casa dos Papagaios’, ali junto ao mercado, tira o boné, limpa o suor da testa, ajeita o fato, esfrega as mãos, olha para a sala cheia e exclama para o balcão:
-“Oh ‘Jaquim’! Dá aí uma grade de cervejas!”
O sr. Joaquim, dono desta famosa casa de petiscos da nossa cidade, apesar de assoberbado de trabalho visto ter todas as cadeiras e mesas ocupadas, ainda lhe perguntou, meio a sério meio a brincar:
-“Das brancas ou das pretas!?”
-“Ora, tanto faz” – retorquiu o Paulino – “É para me sentar!”

Pão e vinho
E conta-se também que certo dia chegou um sujeito a esta casa e pediu dois pães, um com chouriço e o outro simples. Comeu o de chouriço, pagou, e levou o simples, esclarecendo:
-“Este é para as pombas do jardim, coitadas, sempre cheias de fome!”
E saiu.
O Paulino, a um canto assistia a tudo isto.
Passados uns largos minutos levantou-se, dirigiu-se ao balcão e pediu ao ‘Jaquim’ dois tintos, um deles ‘traçado’.
-“Este vai ser para as pombas do jardim. Coitadas, sempre a comerem pão devem estar com uma sede danada!”

ToniFlórido

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