domingo, 25 de fevereiro de 2007

(6) O patusco PAULINO
= Histórias verdadeiras =
por Toni Florido

A buzina
Cá vai mais uma história do Paulino com um carro avariado.
Perto do jardim encontrava-se um sujeito bem apessoado, bem vestido e engravatado a preceito, olhando estarrecido para a ponta de um dedo sujo com uma gota de óleo. A sua ‘bomba’ ali ao lado, automóvel com ‘cara’ de ter custado vários milhares, recusava-se a trabalhar. Tossia, engasgava-se, mas não passava daí. O sujeito olhava para dentro do capô como um boi (passe a alusão) a olhar para um palácio. Mas era visível que o seu cuidado ía todo para o seu vestuário imaculado, não o fosse conspurcar com alguma desprezível partícula de oleosa sujidade.
Eis quando,vindo do jardim, surge a típica figura desengonçada do Paulino, boné a três quartos e uma saca de plástico na mão. Aproximou-se do local do ‘drama’.
-“Então o que é que se passa oh sr. doutor!?”
O sujeito explicou-lhe que não sabia. Que não atinava com a avaria.
-“Oh meu Deus! Deixe isso comigo! Ora vá lá para dentro do carro.”
Ele assim fez, agradecido por lhe ter aparecido assim alguém a perceber de mecânica.
O Paulino começou com as preparações iniciais: despiu o casaco, dobrou-o e colocou-o cuidadosamente sobre o saco de plástico; arregaçou as mangas; cuspiu e esfregou as mãos; examinou com um olhar superior o potente motor; colocou o boné para trás; e disse para o automobilista:
-“Ora toque aí à buzina!”
Ele tocou estridentemente.
O Paulino baixou as mangas da camisa, apanhou o casaco, desdobrou-o, vestiu-o, colocou de novo o boné a três quartos, pegou no saco de plástico e, antes de continuar caminho, virou-se para o atónito automobilista e arrumou-lhe:
-“Olhe que da buzina não é!”

Bebedeiras
Ía bem alegre o nosso homem naquele dia.
Um policia, ao vê-lo cambalear tanto por entre as pessoas, refilou com ele. Que não devia andar assim senão iria passar uma noite na esquadra.
-“Prefiro dormir no Grande Hotel…” - retorquiu o Paulino.
Nesse momento passou um conhecido engenheiro e antigo vereador da nossa Câmara, também com uma ‘narceja’ de se lhe tirar o chapéu. O policia nada disse. Mas disse o Paulino:
-“Vê, sr. guarda! As bebedeiras são iguais, os fatos é que são diferentes!”

Os ‘cowboys’
Parque-Cine. Um filme de cowboys.
O vilão e o herói socavam-se acerbamente. A cena de pugilato durava há já cinco minutos. Cansados, os socos dos dois intervenientes partiam já muito devagarinho, já davam socos na atmosfera, já não acertavam no alvo, já passavam ao lado…
Aconselha o Paulino da ‘geral’:
-“Oh pá, dá desconto ao vento!...”

Paulino no circo
Era Verão e um circo encontrava-se situado junto ao rio.
O homem das facas era um dos artistas mais esperados e apreciados.
Atirava as facas contra um tabique onde se encontrava a sua ‘partner’ e zás, pás! Espetava-lhe quatro facas à esquerda e mais quatro à direita, tão rentes ao corpo que fazia arrepiar a assistência!
Um dia, a moça adoeceu. O artista viu-se, assim, na contigência de solicitar a presença de um voluntário. Mas quem teria a coragem e o sangue frio de encarar as facas voando na sua direcção!?
Quem, sem ser o Paulino, claro está. Destemido, entrou no palco:
-“Oh meu Deus! Vamos lá a isso, desde que não me corte as unhas, isso faço eu lá em casa!...”
O artista descansou-o e preparou-o, falando em espanhol, mais ou menos assim: -“Non tiengas miedo, qui nada te acontecerá…”
E tudo começou a decorrer pelo melhor. Faca para a esquerda do Paulino, outra para a direita, e assim sucessivamente… mas como o casaco do Paulino era largo, uma das facas furou-lhe o forro e a fazenda. –“Non te preocupes, io te pago um casaco!”
-“…Tá… tá bem…” - murmurou o Paulino já bem ‘acagaçado’ – “… mas já agora não podes também pagar-me uma lavagem às calças!?”

Porta e tapete
Naquele tempo o Café Nicola inaugurou uma porta automática. Pisava-se o estrado em borracha, a porta abria.
O Paulino ficou eufórico com a descoberta:
-“Olhem aqui: eu piso o tapete e a porta salta!”- e exemplificava!
E depois acrescentou:
-“É como em minha casa. Eu piso o tapete e as traças saltam!”

Um quisto
Um casal ia na rua a conversar.
Dizia ela:
-“Agora custam três contos!…”
Dizia ele:
-“Pois é, três contos é agora o preço dum ‘kispo’!”
Diz o Paulino que vinha atrás a ouvir a conversa:
-“Um quisto? Três contos!? Vão ao hospital que fazem isso de borla!”

ToniFlórido

Sem comentários: